QML (Quantum Machine Learning): o que é e como pode acelerar modelos de IA

Se a inteligência artificial é a tecnologia que está moldando o presente, a computação quântica promete ser o eixo da revolução futura. E onde essas duas forças se encontram, emerge um novo campo de pesquisa que desperta tanto fascínio quanto ceticismo: o Quantum Machine Learning, ou simplesmente QML. A promessa é ousada: usar as propriedades quânticas da matéria para acelerar e aprimorar modelos de aprendizado de máquina, resolvendo problemas que levariam séculos em computadores clássicos — em minutos ou até segundos.

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Cristiano Rodrigues

5/5/20253 min read

worm's-eye view photography of concrete building
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QML (Quantum Machine Learning): o que é e como pode acelerar modelos de IA

Por Cristiano Rodrigues - REC Inteligência Artificial | Publicado em 2 de maio de 2025

Entre o mundo dos átomos e o dos algoritmos, nasce uma nova ciência: o aprendizado de máquina quântico

Se a inteligência artificial é a tecnologia que está moldando o presente, a computação quântica promete ser o eixo da revolução futura. E onde essas duas forças se encontram, emerge um novo campo de pesquisa que desperta tanto fascínio quanto ceticismo: o Quantum Machine Learning, ou simplesmente QML.

A promessa é ousada: usar as propriedades quânticas da matéria para acelerar e aprimorar modelos de aprendizado de máquina, resolvendo problemas que levariam séculos em computadores clássicos — em minutos ou até segundos.

Mas como isso funciona na prática? Já estamos colhendo os frutos ou ainda estamos no campo das teorias? E quais setores podem ser impactados primeiro?

O que é Quantum Machine Learning (QML)?

Quantum Machine Learning é o campo interdisciplinar que combina computação quântica com machine learning tradicional, buscando potencializar algoritmos de IA com o poder dos qubits — as unidades fundamentais da computação quântica.

Ao contrário dos bits clássicos (0 ou 1), os qubits podem representar superposições e emaranhamentos. Isso permite que algoritmos quânticos processem múltiplas possibilidades simultaneamente, criando novas arquiteturas de redes neurais e métodos de otimização extremamente rápidos.

Em outras palavras, QML é uma tentativa de reescrever as regras do aprendizado de máquina em uma nova linguagem matemática e física.

Como o QML pode acelerar os modelos de IA?

A principal vantagem do QML reside em três frentes:

  1. Aceleração de otimizações complexas:
    Muitos modelos de IA, como redes neurais profundas, dependem de processos iterativos de ajuste (como backpropagation e gradient descent). Algoritmos quânticos prometem encontrar mínimos globais de funções de custo de forma mais eficiente, com menor risco de overfitting.

  2. Manipulação massiva de dados:
    QML pode lidar com dados de altíssima dimensionalidade em estruturas chamadas Hilbert Spaces, tornando possível o reconhecimento de padrões invisíveis para IA clássica.

  3. Redução do consumo computacional:
    Ao processar dados com menos recursos energéticos e em menor tempo, QML oferece uma alternativa sustentável para treinar modelos de larga escala, como LLMs.

Casos de uso reais: onde o QML já está fazendo diferença

Embora a computação quântica ainda esteja em sua infância operacional, já há testes em ambientes reais. Entre os principais exemplos:

  • Descoberta de fármacos:
    Empresas como ProteinQure e Zapata AI usam QML para modelar interações moleculares com precisão quântica, acelerando o desenvolvimento de novas drogas — um processo que tradicionalmente leva anos.

  • Reconhecimento de padrões financeiros:
    O HSBC e o BBVA estão testando algoritmos de QML para previsão de risco e análise de portfólios complexos.

  • Segurança cibernética:
    O NATO Innovation Hub investiga QML para identificar ameaças digitais em tempo real, com detecção proativa baseada em simulações quânticas.

  • Reconhecimento de imagens médicas:
    Com apoio da IBM Quantum, hospitais em Boston utilizam algoritmos híbridos quântico-clássicos para diagnosticar tumores com alta precisão, mesmo em imagens com baixa resolução.

Empresas e plataformas liderando o avanço do QML

  • IBM Quantum:
    Lançou o framework Qiskit Machine Learning, que permite treinar modelos quânticos usando bibliotecas Python.

  • Google Quantum AI:
    Após a conquista da “supremacia quântica” em 2019, a empresa foca em adaptar seus modelos LLM para ambientes quânticos.

  • Microsoft Azure Quantum:
    Fornece APIs integradas com o PyTorch e TensorFlow para treinar modelos híbridos, usando computadores quânticos da Honeywell e IonQ.

  • Rigetti Computing e D-Wave:
    Especializadas em hardware quântico, estão construindo infraestruturas próprias para rodar algoritmos de aprendizado supervisionado e não supervisionado com base quântica.

Desafios e limitações atuais

Apesar do entusiasmo, o QML enfrenta obstáculos significativos:

  • Decoerência quântica: os qubits perdem rapidamente seu estado quântico, o que limita o tempo de processamento.

  • Erro nos circuitos quânticos: mesmo pequenas flutuações geram ruídos que comprometem a precisão dos modelos.

  • Custo e escala: computadores quânticos ainda são caros, grandes e difíceis de manter.

Por isso, o caminho mais viável no momento tem sido os algoritmos híbridos, onde parte do modelo é processada em computadores clássicos e parte em dispositivos quânticos, unindo o melhor dos dois mundos.

E o futuro? O que esperar da integração entre IA e computação quântica?

Especialistas estimam que, nos próximos 5 a 10 anos, o QML possa ultrapassar barreiras importantes em áreas como:

  • Desenvolvimento de AGIs (Inteligências Artificiais Gerais);

  • Modelagem climática de precisão planetária;

  • Simulações preditivas de epidemias e pandemias;

  • Criação de materiais inteligentes via IA e física quântica.

Segundo Peter Wittek, um dos pioneiros do campo, “o QML é para a IA o que o fogo foi para a humanidade: ainda não sabemos tudo o que vai queimar, mas não dá mais para viver sem.”