O que está acontecendo com a OpenAI e os bastidores da corrida pela AGI

De um lado, os idealistas que acreditam que a inteligência artificial geral (AGI) pode salvar a humanidade. Do outro, executivos, investidores e engenheiros que veem na AGI uma corrida inevitável — e lucrativa — para dominar o futuro da civilização. Mas o que está realmente acontecendo com a OpenAI? Por que tantos especialistas têm levantado alertas nos bastidores? E o que está em jogo nesta disputa pelo controle da tecnologia mais poderosa da história?

ANÁLISES

Cristiano Rodrigues

5/4/20254 min read

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O que está acontecendo com a OpenAI e os bastidores da corrida pela AGI

Por REC Inteligência Artificial

San Francisco — Por trás da fachada futurista e das promessas de transformação da OpenAI, a empresa que criou o ChatGPT, há uma guerra silenciosa sendo travada. De um lado, os idealistas que acreditam que a inteligência artificial geral (AGI) pode salvar a humanidade. Do outro, executivos, investidores e engenheiros que veem na AGI uma corrida inevitável — e lucrativa — para dominar o futuro da civilização.

Mas o que está realmente acontecendo com a OpenAI? Por que tantos especialistas têm levantado alertas nos bastidores? E o que está em jogo nesta disputa pelo controle da tecnologia mais poderosa da história?

O que é AGI e por que a OpenAI está obcecada por ela?

A AGI (Artificial General Intelligence) é um conceito que vai além da IA estreita, como os assistentes virtuais ou sistemas de recomendação atuais. Trata-se de criar uma inteligência que possa pensar, aprender e agir de forma autônoma e versátil, como (ou melhor que) um ser humano.

Desde sua fundação em 2015, a OpenAI declarou como missão “garantir que a inteligência artificial geral beneficie toda a humanidade”. Mas nos últimos anos, esse idealismo tem sido posto à prova por decisões estratégicas e corporativas que revelam contradições internas.

Da fundação sem fins lucrativos à aliança com a Microsoft

A OpenAI nasceu como uma organização sem fins lucrativos, financiada por nomes como Elon Musk, Sam Altman e Peter Thiel, com a proposta de criar uma AGI segura e aberta. Em 2019, no entanto, a empresa surpreendeu ao anunciar a criação da OpenAI LP, uma estrutura híbrida com fins lucrativos “limitados” (capped-profit), para atrair investimentos em larga escala.

Logo em seguida, veio a parceria com a Microsoft, que investiu US$ 1 bilhão inicialmente — e depois mais de US$ 10 bilhões. A gigante de Redmond passou a integrar o ChatGPT ao Bing, ao Microsoft 365 e ao Azure, tornando-se a espinha dorsal comercial da OpenAI.

Essa mudança acendeu o alerta entre especialistas: estaria a OpenAI abandonando sua missão original em nome do lucro e da corrida corporativa pela AGI?

A crise de 2023: a demissão e reinstalação de Sam Altman

Um dos momentos mais emblemáticos do que está em jogo aconteceu em novembro de 2023, quando o então CEO Sam Altman foi demitido repentinamente pelo conselho da OpenAI, sob alegações de “perda de confiança” e “falta de transparência”.

A demissão causou um terremoto no Vale do Silício. Funcionários ameaçaram sair em massa. A Microsoft ofereceu emprego a toda a equipe. E em menos de uma semana, Altman estava de volta ao cargo, o conselho foi reformulado, e os sinais de que o conflito era sobre o ritmo e os limites da corrida pela AGI ficaram evidentes.

Desde então, fontes internas relatam um ambiente de tensão crescente: idealismo versus pressão de mercado, transparência versus segredo, ética versus velocidade.

Projeto Q* e os rumores de avanço real rumo à AGI

Outro ponto controverso surgiu com o vazamento do chamado Projeto Q*. Segundo fontes próximas à empresa, trata-se de uma iniciativa interna que teria alcançado avanços significativos em raciocínio matemático e resolução de problemas lógicos, algo que muitos consideram pré-requisito para a AGI.

Apesar do sigilo absoluto, o próprio Altman sugeriu em declarações públicas que algo “grande” estaria sendo desenvolvido. Isso levou nomes como Geoffrey Hinton e Yoshua Bengio a expressarem preocupação pública com o avanço acelerado e sem supervisão de modelos cada vez mais capazes.

Críticas à falta de transparência

Muitos pesquisadores de IA e grupos da sociedade civil têm criticado a OpenAI por reduzir a transparência em nome da “segurança”. Desde o lançamento do GPT-4, detalhes técnicos como o tamanho do modelo, os dados usados no treinamento e os benchmarks internos não foram divulgados, alegando risco de uso indevido.

Mas críticos dizem que a “segurança” virou um pretexto para esconder o avanço real e manter vantagem competitiva. A OpenAI, que antes defendia o código aberto e a colaboração científica, agora adota uma postura fechada, típica de empresas tradicionais.

Segundo Helen Toner, ex-membro do conselho que demitiu Altman, “a empresa passou a priorizar mais a velocidade e o controle do que o alinhamento com os princípios de governança ética da AGI”.

A corrida corporativa e o surgimento de rivais

A OpenAI não está sozinha na corrida pela AGI. Outras empresas como:

  • Anthropic, fundada por ex-funcionários da OpenAI preocupados com a ética e a segurança,

  • Google DeepMind, que lidera avanços em IA biológica e raciocínio abstrato,

  • xAI, de Elon Musk, que promete desenvolver uma IA “voltada para a verdade”,

também estão investindo bilhões em pesquisa e recrutando os melhores talentos do mundo.

O que está se desenhando é uma corrida de múltiplos atores — e múltiplas ideologias — onde o controle sobre a AGI pode significar hegemonia tecnológica global.

O risco de uma “bomba de inteligência”

A grande questão que paira sobre o debate é: e se a AGI chegar antes de termos regras claras para controlá-la?

Em entrevista recente, Geoffrey Hinton comparou a criação da AGI com o desenvolvimento da bomba atômica. “Você pode criar algo com potencial incrível, mas também com destruição em larga escala se cair nas mãos erradas.”

A falta de uma governança internacional robusta sobre o uso de IA — algo que está começando a ser debatido na ONU, na União Europeia e nos EUA — preocupa especialistas. A corrida pela AGI está sendo conduzida por empresas privadas, com interesses próprios, sem uma supervisão clara.

Entre o progresso e o precipício

A OpenAI representa o paradoxo do nosso tempo: é ao mesmo tempo um símbolo de progresso e de alerta. Seus avanços são inegáveis. O ChatGPT mudou a forma como interagimos com máquinas. Mas os conflitos internos, a virada corporativa e os segredos por trás de projetos como o Q* revelam que algo muito maior está em jogo do que apenas tecnologia.

O que está acontecendo com a OpenAI é o reflexo de uma disputa global pelo controle do futuro. E neste cenário, a pergunta mais importante talvez não seja “quando a AGI vai surgir?”, mas sim:

“Quem vai controlá-la — e com que propósito?”