O que está acontecendo com a OpenAI e os bastidores da corrida pela AGI
De um lado, os idealistas que acreditam que a inteligência artificial geral (AGI) pode salvar a humanidade. Do outro, executivos, investidores e engenheiros que veem na AGI uma corrida inevitável — e lucrativa — para dominar o futuro da civilização. Mas o que está realmente acontecendo com a OpenAI? Por que tantos especialistas têm levantado alertas nos bastidores? E o que está em jogo nesta disputa pelo controle da tecnologia mais poderosa da história?
ANÁLISES
O que está acontecendo com a OpenAI e os bastidores da corrida pela AGI
Por REC Inteligência Artificial
San Francisco — Por trás da fachada futurista e das promessas de transformação da OpenAI, a empresa que criou o ChatGPT, há uma guerra silenciosa sendo travada. De um lado, os idealistas que acreditam que a inteligência artificial geral (AGI) pode salvar a humanidade. Do outro, executivos, investidores e engenheiros que veem na AGI uma corrida inevitável — e lucrativa — para dominar o futuro da civilização.
Mas o que está realmente acontecendo com a OpenAI? Por que tantos especialistas têm levantado alertas nos bastidores? E o que está em jogo nesta disputa pelo controle da tecnologia mais poderosa da história?
O que é AGI e por que a OpenAI está obcecada por ela?
A AGI (Artificial General Intelligence) é um conceito que vai além da IA estreita, como os assistentes virtuais ou sistemas de recomendação atuais. Trata-se de criar uma inteligência que possa pensar, aprender e agir de forma autônoma e versátil, como (ou melhor que) um ser humano.
Desde sua fundação em 2015, a OpenAI declarou como missão “garantir que a inteligência artificial geral beneficie toda a humanidade”. Mas nos últimos anos, esse idealismo tem sido posto à prova por decisões estratégicas e corporativas que revelam contradições internas.
Da fundação sem fins lucrativos à aliança com a Microsoft
A OpenAI nasceu como uma organização sem fins lucrativos, financiada por nomes como Elon Musk, Sam Altman e Peter Thiel, com a proposta de criar uma AGI segura e aberta. Em 2019, no entanto, a empresa surpreendeu ao anunciar a criação da OpenAI LP, uma estrutura híbrida com fins lucrativos “limitados” (capped-profit), para atrair investimentos em larga escala.
Logo em seguida, veio a parceria com a Microsoft, que investiu US$ 1 bilhão inicialmente — e depois mais de US$ 10 bilhões. A gigante de Redmond passou a integrar o ChatGPT ao Bing, ao Microsoft 365 e ao Azure, tornando-se a espinha dorsal comercial da OpenAI.
Essa mudança acendeu o alerta entre especialistas: estaria a OpenAI abandonando sua missão original em nome do lucro e da corrida corporativa pela AGI?
A crise de 2023: a demissão e reinstalação de Sam Altman
Um dos momentos mais emblemáticos do que está em jogo aconteceu em novembro de 2023, quando o então CEO Sam Altman foi demitido repentinamente pelo conselho da OpenAI, sob alegações de “perda de confiança” e “falta de transparência”.
A demissão causou um terremoto no Vale do Silício. Funcionários ameaçaram sair em massa. A Microsoft ofereceu emprego a toda a equipe. E em menos de uma semana, Altman estava de volta ao cargo, o conselho foi reformulado, e os sinais de que o conflito era sobre o ritmo e os limites da corrida pela AGI ficaram evidentes.
Desde então, fontes internas relatam um ambiente de tensão crescente: idealismo versus pressão de mercado, transparência versus segredo, ética versus velocidade.
Projeto Q* e os rumores de avanço real rumo à AGI
Outro ponto controverso surgiu com o vazamento do chamado Projeto Q*. Segundo fontes próximas à empresa, trata-se de uma iniciativa interna que teria alcançado avanços significativos em raciocínio matemático e resolução de problemas lógicos, algo que muitos consideram pré-requisito para a AGI.
Apesar do sigilo absoluto, o próprio Altman sugeriu em declarações públicas que algo “grande” estaria sendo desenvolvido. Isso levou nomes como Geoffrey Hinton e Yoshua Bengio a expressarem preocupação pública com o avanço acelerado e sem supervisão de modelos cada vez mais capazes.
Críticas à falta de transparência
Muitos pesquisadores de IA e grupos da sociedade civil têm criticado a OpenAI por reduzir a transparência em nome da “segurança”. Desde o lançamento do GPT-4, detalhes técnicos como o tamanho do modelo, os dados usados no treinamento e os benchmarks internos não foram divulgados, alegando risco de uso indevido.
Mas críticos dizem que a “segurança” virou um pretexto para esconder o avanço real e manter vantagem competitiva. A OpenAI, que antes defendia o código aberto e a colaboração científica, agora adota uma postura fechada, típica de empresas tradicionais.
Segundo Helen Toner, ex-membro do conselho que demitiu Altman, “a empresa passou a priorizar mais a velocidade e o controle do que o alinhamento com os princípios de governança ética da AGI”.
A corrida corporativa e o surgimento de rivais
A OpenAI não está sozinha na corrida pela AGI. Outras empresas como:
Anthropic, fundada por ex-funcionários da OpenAI preocupados com a ética e a segurança,
Google DeepMind, que lidera avanços em IA biológica e raciocínio abstrato,
xAI, de Elon Musk, que promete desenvolver uma IA “voltada para a verdade”,
também estão investindo bilhões em pesquisa e recrutando os melhores talentos do mundo.
O que está se desenhando é uma corrida de múltiplos atores — e múltiplas ideologias — onde o controle sobre a AGI pode significar hegemonia tecnológica global.
O risco de uma “bomba de inteligência”
A grande questão que paira sobre o debate é: e se a AGI chegar antes de termos regras claras para controlá-la?
Em entrevista recente, Geoffrey Hinton comparou a criação da AGI com o desenvolvimento da bomba atômica. “Você pode criar algo com potencial incrível, mas também com destruição em larga escala se cair nas mãos erradas.”
A falta de uma governança internacional robusta sobre o uso de IA — algo que está começando a ser debatido na ONU, na União Europeia e nos EUA — preocupa especialistas. A corrida pela AGI está sendo conduzida por empresas privadas, com interesses próprios, sem uma supervisão clara.
Entre o progresso e o precipício
A OpenAI representa o paradoxo do nosso tempo: é ao mesmo tempo um símbolo de progresso e de alerta. Seus avanços são inegáveis. O ChatGPT mudou a forma como interagimos com máquinas. Mas os conflitos internos, a virada corporativa e os segredos por trás de projetos como o Q* revelam que algo muito maior está em jogo do que apenas tecnologia.
O que está acontecendo com a OpenAI é o reflexo de uma disputa global pelo controle do futuro. E neste cenário, a pergunta mais importante talvez não seja “quando a AGI vai surgir?”, mas sim:
“Quem vai controlá-la — e com que propósito?”