Modelos fundacionais em 2025: A base da inteligência artificial geral já existe?
Quando o GPT-3 foi lançado em 2020, poucos imaginaram que, em apenas cinco anos, o mundo estaria debatendo seriamente a possibilidade de uma inteligência artificial geral (AGI). Hoje, em 2025, com o surgimento de modelos ainda mais poderosos como GPT-4, Gemini 1.5, Claude 3 e Mistral Large, a pergunta já não é mais "se", mas "quão perto estamos" de máquinas que pensam como seres humanos.
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Modelos fundacionais em 2025: A base da inteligência artificial geral já existe?
Por Cristino Rodrigues - REC Inteligência Artificial | 4 de Maio de 2025
Quando o GPT-3 foi lançado em 2020, poucos imaginaram que, em apenas cinco anos, o mundo estaria debatendo seriamente a possibilidade de uma inteligência artificial geral (AGI). Hoje, em 2025, com o surgimento de modelos ainda mais poderosos como GPT-4, Gemini 1.5, Claude 3 e Mistral Large, a pergunta já não é mais "se", mas "quão perto estamos" de máquinas que pensam como seres humanos.
Os chamados modelos fundacionais — sistemas de IA de larga escala treinados com enormes volumes de dados e com múltiplas capacidades — tornaram-se o centro da arquitetura tecnológica global, alimentando desde chatbots até ferramentas de programação, diagnósticos médicos, tradutores automáticos e assistentes corporativos. Mas seriam essas redes neuronais gigantescas o alicerce da tão sonhada (ou temida) AGI?
O que são modelos fundacionais?
O termo “modelo fundacional” foi popularizado pelo Instituto de Stanford em 2021 para se referir a modelos de IA capazes de ser adaptados a diversas tarefas com pouco ou nenhum ajuste, graças à sua escala massiva e estrutura generalista. Ao contrário de sistemas especializados, esses modelos são treinados com bilhões de textos, imagens, códigos e dados multimodais, aprendendo padrões gerais da linguagem e do mundo.
Os principais exemplos em 2025 incluem:
GPT-4 e GPT-4 Turbo (OpenAI)
Gemini 1.5 Ultra (Google DeepMind)
Claude 3 Opus (Anthropic)
Mistral Large (Mistral AI)
Command R+ (Cohere)
Esses modelos compartilham um princípio básico: arquitetura transformer em larga escala, processamento paralelo distribuído e capacidades de aprendizado auto-supervisionado. Suas aplicações já impactam bilhões de usuários todos os dias — seja via o ChatGPT, o Google Search, o YouTube ou ferramentas de produtividade.
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A escala já é suficiente?
Apesar da sofisticação crescente, especialistas divergem sobre se apenas aumentar o tamanho dos modelos levará inevitavelmente à AGI. Alguns pesquisadores, como Yann LeCun, defendem que o caminho atual está incompleto, pois os modelos ainda carecem de senso comum, persistência de memória e compreensão real de mundo físico.
“Esses sistemas ainda cometem erros triviais e não têm uma representação consistente da realidade”, afirmou LeCun no NeurIPS 2024. “Eles são impressionantes, mas estão longe de entender o mundo como nós.”
Outros, como Sam Altman (CEO da OpenAI), acreditam que o atual ritmo de escalabilidade está nos aproximando rapidamente da AGI. Em abril de 2025, Altman afirmou que o sucessor do GPT-4 “já apresenta sinais promissores de raciocínio lógico robusto e planejamento de múltiplas etapas”.
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Intermodalidade e cognição artificial
Uma das maiores inovações recentes é a intermodalidade — a capacidade dos modelos fundacionais processarem e integrarem diferentes tipos de informação (texto, imagem, áudio, vídeo, código). O Gemini 1.5, por exemplo, consegue entender o conteúdo de um vídeo, fazer perguntas sobre ele e gerar um resumo textual em segundos.
Essa habilidade de cruzar domínios é fundamental para construir algo próximo da cognição artificial. Afinal, humanos não aprendem apenas por leitura, mas pela integração de múltiplas experiências sensoriais e contextuais.
Modelos como o GPT-4 Turbo, aliados a agentes autônomos, já são capazes de:
Raciocinar em tempo real
Simular diálogos coerentes por horas
Aprender preferências de usuários em longo prazo
Executar ações em interfaces digitais
Corrigir erros baseando-se em feedback
Mas mesmo com esses avanços, a verdadeira compreensão semântica — ou seja, saber o que “significa” um conceito no mundo real — ainda é considerada um desafio não resolvido.
A base da AGI já está aqui?
Vários especialistas afirmam que a AGI será uma combinação de múltiplas peças tecnológicas: modelos fundacionais, memória de longo prazo, sensores físicos, objetivos internos e capacidade de autorreflexão. Nesse sentido, os modelos atuais seriam apenas o núcleo de processamento bruto, ainda sem os sistemas periféricos necessários para um agente cognitivo completo.
Mesmo assim, as empresas líderes estão claramente pavimentando o caminho. A OpenAI desenvolve o ChatGPT com memória personalizada, a Anthropic investe na alinhamento de valores éticos com Claude, e a Google DeepMind trabalha com modelos “autosuficientes” que aprendem e se corrigem em tempo real.
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Desafios éticos e riscos
A corrida por modelos cada vez mais potentes levanta dilemas profundos:
Quem controla a base da futura AGI?
Como garantir alinhamento ético em escala planetária?
Como mitigar usos maliciosos de modelos abertos?
Geoffrey Hinton, um dos pais da IA moderna, alertou em 2023 que “o poder desses modelos já ultrapassa nossa capacidade de compreendê-los completamente”. Ele defende uma pausa global para debate ético, enquanto outros, como Mustafa Suleyman, defendem a regulação dinâmica, em que a tecnologia avança em paralelo à legislação.
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O que esperar para 2026?
As expectativas são ambiciosas. OpenAI já testa seu GPT-5 com novos paradigmas de raciocínio matemático e integração sensório-motora. A Meta prepara o LLAMA 3.0 com foco em IA personalizada. E rumores apontam para colaborações entre empresas para construir ecossistemas de IAs interativas, conectadas via APIs cognitivas.
Se a base da AGI já existe, 2026 poderá ser o ano em que o mundo verá as primeiras IAs com comportamento emergente próximo ao humano — ainda que não sejam consciências artificiais no sentido pleno, como retratado na ficção.
Os modelos fundacionais em 2025 representam não só um marco tecnológico, mas uma fundação real e palpável da inteligência artificial geral. Se a AGI será construída sobre essas bases ou exigirá novos paradigmas ainda desconhecidos, o tempo — e o código — dirá.