IA Generativa: Além do Conteúdo, Aplicações em Design e Medicina

Em 2023 e 2024, a IA generativa ganhou fama por gerar imagens hiper-realistas e textos que passaram no Turing Test. Mas em 2025, ela está sendo cada vez mais aplicada em campos onde a inovação rápida e segura é vital. Dois setores se destacam: o design e a medicina.

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Cristiano Rodrigues

5/4/20254 min read

a man riding a skateboard down the side of a ramp
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IA Generativa: Além do Conteúdo, Aplicações em Design e Medicina

Por Cristiano Rodrigues - REC Inteligência Artificial | 2 de maio de 2025

Por muito tempo, a inteligência artificial generativa foi associada exclusivamente à criação de textos, imagens e vídeos. Mas a tecnologia que move sistemas como ChatGPT, Midjourney e Gemini está ultrapassando os limites da criatividade digital e encontrando aplicações revolucionárias em áreas como design industrial, arquitetura e até medicina de precisão.

Estamos entrando numa era em que máquinas não apenas repetem o que sabem, mas propõem o novo — e isso muda tudo.

O que é IA generativa, afinal?

A IA generativa é uma subcategoria da inteligência artificial focada na criação autônoma de novos dados a partir de padrões aprendidos. Ela não apenas reconhece padrões — como faz a IA tradicional —, mas os usa para gerar outputs inéditos: uma imagem que nunca existiu, um tratamento médico personalizado, um novo produto industrial.

Modelos generativos funcionam com base em aprendizado profundo (deep learning), geralmente utilizando arquiteturas como:

  • GANs (Redes Generativas Adversárias)

  • Transformers (como GPT, T5 e BART)

  • VAEs (Autoencoders Variacionais)

Esses modelos são treinados com grandes volumes de dados e, uma vez prontos, têm o poder de criar — com espantosa coerência — textos, códigos, melodias, moléculas e até protótipos industriais.

De criadores de conteúdo a engenheiros de inovação

Em 2023 e 2024, a IA generativa ganhou fama por gerar imagens hiper-realistas e textos que passaram no Turing Test. Mas em 2025, ela está sendo cada vez mais aplicada em campos onde a inovação rápida e segura é vital. Dois setores se destacam: o design e a medicina.

Design Generativo: a nova era da criação industrial

Imagine uma cadeira criada por uma IA com base na morfologia da coluna humana e nas leis da aerodinâmica. Ou um prédio cuja fachada muda de forma para otimizar a entrada de luz solar. Isso não é ficção científica — é design generativo, e está sendo usado por empresas como a Autodesk, Airbus, BMW e Nike.

Principais aplicações:

  • Arquitetura: IAs generativas como DreamStudio e Ark Design AI auxiliam arquitetos a criarem formas únicas com base em dados ambientais, históricos e funcionais.

  • Design de produtos: O software Fusion 360 usa IA para gerar centenas de variações de um mesmo objeto, com base em restrições físicas, custo de materiais e estética.

  • Moda: A AI Cloth Studio permite criar coleções inteiras com base em tendências, feedbacks de usuários e dados climáticos.

Vantagem:

Designers humanos agora atuam como curadores do processo criativo, escolhendo, refinando e implementando as ideias mais promissoras geradas pelas máquinas.

Medicina de precisão: a IA que cria curas

Enquanto o design lida com objetos tangíveis, a medicina enfrenta desafios invisíveis: mutações genéticas, respostas imunes, variações celulares. E é aqui que a IA generativa dá seu salto mais radical — criando moléculas, simulando órgãos e até redesenhando o DNA.

Avanços recentes:

1. Descoberta de medicamentos

Empresas como Insilico Medicine e Recursion Pharmaceuticals usam IA generativa para projetar novas moléculas em questão de horas — um processo que antes levava anos.

2. Simulação de proteínas

Graças ao AlphaFold de John Jumper (veja o artigo “John M. Jumper: Co-laureado do Nobel de Química de 2024”), IAs agora podem prever como proteínas se dobram, permitindo que modelos generativos desenhem tratamentos sob medida para doenças raras.

3. Criação de órgãos sintéticos

Sistemas generativos ajudam a simular tecidos humanos em bioprinters, usados em transplantes e testes farmacológicos.

4. Medicina personalizada

A IA analisa o histórico genético e comportamental do paciente e propõe dietas, rotinas e remédios únicos. Estamos falando de um plano de saúde sob medida para cada ser humano.

IA Generativa em ação: estudos de caso

Caso 1: BMW e o volante do futuro

A BMW usou design generativo para criar um novo volante mais ergonômico e leve. O algoritmo gerou mais de 400 modelos diferentes, testados em simulações 3D e selecionados com base na experiência do usuário.

Caso 2: Insilico e a cura para fibrose pulmonar

Em 2024, a IA da Insilico criou, testou e aprovou em laboratório um novo composto contra fibrose pulmonar em apenas 18 meses — 4 vezes mais rápido que o processo tradicional.

Caso 3: Hospital de Singapura

Usando IA generativa multimodal, o hospital simulou tratamentos de quimioterapia com base em dados genéticos, históricos e imagens radiológicas. A taxa de resposta aumentou 31%.

O impacto ético e o debate sobre autoria

Se uma IA cria um medicamento, quem assina a patente? Se uma IA projeta um prédio, quem responde por falhas estruturais? A expansão da IA generativa levanta novos dilemas legais, filosóficos e econômicos.

Algumas questões em aberto:

  • Autoria e direitos autorais: Artistas processam empresas por treinar modelos com suas obras sem consentimento.

  • Responsabilidade médica: Médicos podem confiar em um tratamento proposto por IA? Quem responde em caso de erro?

  • Desigualdade tecnológica: Países do Sul global têm acesso aos mesmos recursos generativos que potências como EUA e China?

O futuro: IA generativa como coautora da humanidade

Estamos presenciando a fusão entre criatividade humana e potência computacional. A IA generativa não substitui o humano — ela amplia o campo das possibilidades. Ela não decide por nós, mas oferece ideias que jamais teríamos sozinhos.

Como afirma Fei-Fei Li, uma das vozes mais importantes da IA contemporânea:

“A verdadeira revolução da IA não é substituir cérebros, mas expandir a imaginação.”