IA e eleições: O que muda em 2026 com os novos reguladores de conteúdo

A corrida eleitoral de 2026 ainda nem começou oficialmente, mas já é possível perceber: será a primeira eleição global em que a inteligência artificial terá um papel central — e oficialmente regulado. Após os escândalos envolvendo manipulações em redes sociais, vídeos falsificados com IA e campanhas automatizadas em 2022 e 2024, o mundo caminha para um ciclo eleitoral diferente.

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Cristiano Rodrigues

5/5/20254 min read

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IA e eleições: O que muda em 2026 com os novos reguladores de conteúdo

Por Cristiano Rodrigues - REC Inteligência Artificial | Publicado em 2 de maio de 2025

A nova fronteira da democracia: entre algoritmos, deepfakes e a urgência por regulação

A corrida eleitoral de 2026 ainda nem começou oficialmente, mas já é possível perceber: será a primeira eleição global em que a inteligência artificial terá um papel central — e oficialmente regulado. Após os escândalos envolvendo manipulações em redes sociais, vídeos falsificados com IA e campanhas automatizadas em 2022 e 2024, o mundo caminha para um ciclo eleitoral diferente.

A pergunta que paira no ar é: estamos preparados para uma democracia mediada por algoritmos?

De memes a máquinas: o uso crescente de IA em campanhas

Campanhas políticas sempre foram maratonas de persuasão. Mas, com IA, entramos em uma nova era: pesquisas de opinião instantâneas, personalização de discurso em massa, geração automática de vídeos emocionais e chatbots políticos estão entre os recursos já testados — e amplamente criticados — nos últimos anos.

Em 2024, a eleição presidencial nos Estados Unidos foi marcada por um escândalo envolvendo deepfakes de vozes de candidatos, espalhados em aplicativos de mensagens. No Brasil, o TSE registrou mais de 13 mil denúncias relacionadas a conteúdos falsos gerados por IA nas eleições municipais.

Reguladores emergem: UE, EUA e Brasil adotam novas diretrizes

A crescente preocupação levou governos a agir. Três frentes de regulação estão se destacando no cenário internacional:

🇪🇺 União Europeia:

Com a entrada em vigor do AI Act, a UE classificou sistemas de IA usados em campanhas políticas como “alto risco”. Isso exige:

  • Transparência total sobre uso de IA.

  • Marcação explícita de conteúdos sintéticos.

  • Auditoria obrigatória de algoritmos usados por partidos.

🇺🇸 Estados Unidos:

O Congresso norte-americano aprovou o Political AI Disclosure Act, exigindo que qualquer conteúdo gerado com IA em campanhas venha com selo “synthetic content”. A Comissão Eleitoral também pode aplicar multas milionárias a candidatos que usem IA sem consentimento do público.

🇧🇷 Brasil:

O Tribunal Superior Eleitoral publicou em 2025 novas Resoluções Eleitorais que preveem:

  • Proibição de deepfakes não identificados.

  • Restrições ao uso de chatbots políticos.

  • Registro obrigatório de ferramentas automatizadas.

A Ministra Cármen Lúcia declarou: “A inteligência não pode ser usada para fraudar a vontade popular.”

As novas exigências para candidatos e plataformas em 2026

A partir do próximo ano, candidatos e partidos políticos enfrentarão barreiras inéditas:

  • Selo de IA obrigatório: todo material criado com inteligência artificial (vídeo, imagem ou texto) precisa ser marcado visivelmente.

  • Banco de transparência de algoritmos: será preciso informar quais ferramentas foram utilizadas para impulsionar ou gerar conteúdo.

  • Responsabilização de plataformas: redes sociais devem detectar e remover deepfakes eleitorais em até 24 horas sob pena de multa.

Empresas como Meta, Google e TikTok já começaram a desenvolver filtros automáticos para conteúdo sintético eleitoral, e algumas estão testando parcerias com órgãos oficiais para checagem em tempo real.

A zona cinzenta: IA generativa e manipulação emocional

Mesmo com regulamentações, alguns aspectos permanecem difíceis de controlar. A IA generativa permite criação de narrativas que não são falsas no conteúdo, mas manipulam a emoção do eleitor com precisão cirúrgica.

Exemplo: vídeos com trilha sonora dramática, zooms calculados, cortes rápidos e frases impactantes — tudo automatizado por IA — não violam a verdade factual, mas amplificam o viés do espectador. Essa “desinformação emocional” ainda é uma zona cinzenta nos tribunais.

Além disso, modelos multimodais como o GPT-4o agora permitem que qualquer pessoa crie vídeos inteiros com locução realista, imagem e argumento político em minutos — o que coloca os pequenos partidos e candidatos independentes em desvantagem técnica.

Eleitor sob ataque: a era da micropropaganda personalizada

Outro ponto crítico é o uso de IA para criar propaganda sob medida para cada eleitor. Combinando dados de navegação, histórico de compras e opiniões em redes sociais, sistemas de IA já conseguem montar:

  • Anúncios em tom emocional para eleitores indecisos.

  • Vídeos “de amigo para amigo” simulando conversas.

  • Chatbots capazes de responder dúvidas e reforçar viés político.

O perigo está na manipulação sem consciência: você não sabe que está sendo manipulado — e nem que é um experimento algorítmico.

O contraponto: como a IA também pode proteger as eleições

Nem tudo é distópico. A própria IA está sendo usada para:

  • Detectar fake news em tempo real.

  • Verificar autenticidade de vídeos e áudios.

  • Monitorar bots e redes coordenadas de desinformação.

  • Analisar disparos ilegais de mensagens em aplicativos.

Ferramentas como FactCheck GPT, desenvolvida por uma coalizão internacional, serão integradas a plataformas eleitorais oficiais em 2026.

Além disso, redes neurais estão sendo usadas para proteger urnas eletrônicas contra ataques cibernéticos, em sinergia com sistemas de blockchain eleitoral.

IA, democracia e o paradoxo da confiança

O maior desafio talvez não esteja no uso da IA, mas na reconstrução da confiança pública nas eleições. Com tantos conteúdos falsos, vídeos hiper-realistas e manipulações circulando, o eleitor médio se sente cada vez mais perdido sobre o que é real.

A regulação precisa ser firme, mas também equilibrada — de forma a não sufocar a liberdade de expressão e garantir igualdade de condições tecnológicas entre candidatos.

2026 como teste global para a democracia algorítmica

A eleição de 2026 será um laboratório global para avaliar o poder e os limites da IA na política. Será também o início de um novo modelo de governança, onde a transparência tecnológica será tão crucial quanto a ética partidária.

Governos, empresas de tecnologia, jornalistas e eleitores precisarão trabalhar juntos para garantir que a IA seja instrumento de amplificação democrática — e não de manipulação sistêmica.