Gary Marcus e a Guerra pela Alma da Inteligência Artificial: O Cientista que Enfrenta o Vale do Silício

Gary Marcus, neurocientista e crítico ferrenho da inteligência artificial moderna, desafia os gigantes do Vale do Silício ao expor as limitações do deep learning e dos modelos generativos como ChatGPT. Neste artigo investigativo, analisamos sua proposta de uma IA híbrida, suas disputas com nomes como Yann LeCun e suas advertências sobre os riscos éticos e sociais da corrida pela AGI. Conheça a visão do cientista que está no centro dos debates mais urgentes sobre o futuro da inteligência artificial. Uma leitura essencial para entender por que Gary Marcus pode ser a consciência crítica que a IA precisa — antes que seja tarde. Ideal para leitores que buscam profundidade, responsabilidade e análise em meio ao hype tecnológico global.

PERSONALIDADES

Cristiano Rodrigues

4/30/20255 min read

Gary Marcus: O Crítico da Inteligência Artificial que o Vale do Silício Não Consegue Ignorar

Por REC Inteligência Artificial | Estilo The New York Times

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Quando a inteligência artificial começou a dominar os holofotes da ciência e da indústria, muitos pesquisadores celebraram os avanços impressionantes do deep learning, das redes neurais profundas e dos modelos generativos como o ChatGPT. Mas enquanto a maioria aplaudia, Gary Marcus preferia a cautela – e a crítica fundamentada.

Professor emérito de Psicologia e Neurociência da Universidade de Nova York, fundador de empresas e autor de best-sellers como Rebooting AI (2019), Marcus tem sido, há anos, uma das vozes mais lúcidas – e controversas – no cenário da inteligência artificial. Suas críticas incomodam. E por isso, talvez, ele seja uma das figuras mais importantes para entender os rumos reais que a IA pode ou não tomar.

A biografia de um inconformado

Gary Marcus nasceu em 8 de fevereiro de 1970 e desde cedo demonstrou interesse por linguagem, cognição e o funcionamento do cérebro humano. Com doutorado em psicologia pelo MIT, sob a orientação de Steven Pinker, Marcus começou sua carreira estudando como as crianças aprendem linguagem – uma área que, curiosamente, se tornaria o epicentro da revolução da IA anos depois com os modelos de linguagem natural.

Durante os anos 2000, enquanto o Vale do Silício começava a investir pesado em algoritmos baseados em dados, Marcus seguia uma linha mais racionalista e simbólica: acreditava que inteligência requer mais do que correlações estatísticas – requer representação explícita do conhecimento, raciocínio causal, linguagem estruturada e inferência lógica.

Essa convicção colocou Gary Marcus em rota de colisão com os gigantes do deep learning.

O grande cético do deep learning

Para Marcus, deep learning não é suficiente. Ele reconhece os avanços e os méritos dos modelos neurais – especialmente no reconhecimento de padrões visuais e em tarefas específicas como tradução automática ou geração de texto. Mas seus argumentos giram em torno de um ponto central: esses sistemas não entendem o mundo da forma como os humanos entendem.

“Esses sistemas funcionam como papagaios estatísticos,” disse ele em uma entrevista de 2023. “Eles sabem combinar palavras, mas não compreendem conceitos.”

Em Rebooting AI: Building Artificial Intelligence We Can Trust, coescrito com Ernest Davis, Marcus apresenta uma crítica detalhada às abordagens atuais. Segundo ele, a confiança cega nos grandes modelos de linguagem, como o GPT, esconde riscos sérios: alucinações, falhas de raciocínio, vulnerabilidades à manipulação e, sobretudo, a ausência de compreensão real.

Ele compara os sistemas atuais a carros que parecem funcionar bem, mas que não têm volante, freios ou faróis. “Eles podem parecer impressionantes numa pista de teste, mas não são seguros para as ruas do mundo real.”

Inteligência híbrida: o futuro, segundo Gary Marcus

Marcus propõe um modelo alternativo ao puramente conexionista: inteligência híbrida. Essa abordagem combina as vantagens das redes neurais – como a capacidade de generalizar a partir de grandes volumes de dados – com modelos simbólicos, que representariam regras explícitas, conceitos e lógica.

Essa é uma visão que ecoa os primeiros tempos da IA, quando pesquisadores como John McCarthy e Marvin Minsky defendiam que a inteligência poderia ser formalizada. Para Marcus, a volta dessa abordagem, agora em conjunto com o aprendizado profundo, pode ser a chave para uma IA realmente confiável e segura.

Ele defende também a explicabilidade nos sistemas de IA: não basta que um sistema dê a resposta certa – é preciso que ele consiga explicar por que deu aquela resposta. Algo que modelos como o GPT-4 ainda não conseguem fazer de maneira transparente.

Críticas diretas à OpenAI, Google e Meta

Nos últimos anos, Marcus tem usado suas redes sociais, artigos e participações em podcasts para criticar diretamente empresas como a OpenAI, o Google DeepMind e a Meta AI. Ele argumenta que essas organizações estão avançando rápido demais, sem as devidas precauções éticas e científicas.

Em uma postagem viral no X (antigo Twitter), Marcus comparou o desenvolvimento de IA por grandes corporações à corrida por energia nuclear durante a Guerra Fria: “Todos querem estar na frente, mas ninguém parece disposto a discutir as consequências.”

Sua crítica é tanto técnica quanto social. Ele teme que, sem regulação, a IA possa amplificar desigualdades, disseminar desinformação e provocar crises sociais de grande escala. Para ele, uma governança internacional da IA é tão urgente quanto foi a regulação global da energia atômica.

A disputa com Yann LeCun

Um dos momentos mais notáveis da trajetória pública de Gary Marcus foi seu debate acalorado com Yann LeCun, co-ganhador do Prêmio Turing e chefe de IA na Meta. LeCun é um defensor ferrenho do deep learning e das redes neurais auto-supervisionadas.

Em uma série de debates e artigos, Marcus questionou a visão de LeCun de que os sistemas atuais vão, com escala suficiente, alcançar a inteligência geral artificial (AGI). Para Marcus, simplesmente ampliar o número de parâmetros e os dados de treinamento não resolve os problemas estruturais da IA.

A discussão não foi apenas técnica. Foi simbólica: representou o confronto entre duas visões do que é – e do que deve ser – inteligência. E colocou Marcus como o principal porta-voz de uma dissidência cada vez mais relevante.

A pandemia, os modelos e o despertar do público

Com a chegada da pandemia de COVID-19, Marcus ampliou seu escopo de atuação. Passou a falar sobre o uso (e abuso) de modelos estatísticos para prever o curso da doença, e como a dependência cega de algoritmos pode gerar decisões desastrosas.

Esse período coincidiu com o lançamento do GPT-3 e, posteriormente, do ChatGPT. Marcus foi um dos primeiros a testar publicamente esses modelos com desafios conceituais, perguntas lógicas, problemas de inferência e paradoxos.

Ele documentou dezenas de falhas nos sistemas, muitas das quais foram depois reconhecidas pelas próprias desenvolvedoras.

Empreendedor, educador e provocador

Além do lado acadêmico e crítico, Gary Marcus também é empreendedor. Ele fundou a Geometric Intelligence, uma startup voltada à IA híbrida que foi adquirida pela Uber em 2016. Depois, criou a Robust.AI, voltada para robôs confiáveis, e mais recentemente lançou o projeto The Marcus Lab, uma iniciativa para educar o público e desenvolver novas abordagens de IA com responsabilidade.

Ele tem um talento raro: explicar conceitos complexos de forma acessível, sem perder o rigor. Seu canal no YouTube, sua newsletter e suas aparições em conferências têm ganhado cada vez mais seguidores entre jornalistas, reguladores e desenvolvedores preocupados com o futuro da tecnologia.

A visão de longo prazo: ética, ciência e humanidade

O ponto mais forte da argumentação de Marcus talvez não esteja em sua crítica ao deep learning, mas em sua visão positiva do que a IA pode – e deve – ser. Ele acredita que, com o método certo, podemos criar sistemas não apenas inteligentes, mas éticos, transparentes e alinhados com valores humanos.

Em uma era marcada pela corrida frenética por inovação, Gary Marcus se tornou o conselheiro relutante do progresso, lembrando à comunidade científica que as promessas da IA só terão valor se vierem acompanhadas de verdade, segurança e sabedoria.

Enquanto o mundo se encanta com as façanhas dos modelos generativos, Gary Marcus continua sendo a consciência crítica da inteligência artificial moderna. Suas ideias não são populares entre os entusiastas do hype, mas são cada vez mais respeitadas entre aqueles que compreendem os riscos reais da tecnologia.

No final, talvez a história da IA não seja apenas sobre qual sistema é mais rápido ou mais criativo, mas sobre qual visão de inteligência será capaz de sustentar o futuro da humanidade.

E nessa disputa, a voz firme de Gary Marcus tem tudo para ecoar por décadas.